subesp. californica
Informação
Eschscholzia californica
californica
Cham. in Nees
Ranunculidae
Magnoliopsida
Magnoliophytina (Angiospermae)
Spermatophyta
Caméfito
Originária da Califórnia; naturalizada C e W Europa
Papoila-da-Califórnia
Não
Distribuição em Portugal
Na passada semana falávamos das nossas “exportações” à América do Norte, esta semana vamos ver o que importámos daquelas terras. Realmente o contraste é muito interessante, pois ajuda-nos a ver como essa ideia do espaço a fazer tempo e o tempo a fazer espaço começa a ganhar algum sentido. Por esta razão decidimos deleitar a nossa vista com uma Papoila americana, mais precisamente com a Papoila-da-Califórnia (Eschscholzia californica Cham., e neste caso a subespécie californica). Esta exótica Papaverácea (Família Papaveraceae) deve o seu difícil e intrincado nome genérico a um físico e naturalista da Estónia, Johann Eschscholtz (1793-1831), que formou parte de uma expedição científica organizada pela Rússia aos Estados Unidos em 1816. Se alguma vez têm a feliz oportunidade de visitar a Califórnia não lhes vai resultar muito difícil encontrar esta vistosa planta, pois vive em taludes, margens de caminhos, linhas de água secas…, isto é em qualquer zona que tenha sido alvo de alguma alteração. Contudo é muito provável que também acabem por encontrá-la em muitos outros estados deste mesmo país, uma vez que a sua facilidade para explorar o mundo além dos jardins é extremamente bem-sucedida. Sendo assim como também chegou à Europa. Enquanto cultivada não precisa de especiais cuidados, a sua floração é certamente exuberante e volumosa, cresce com facilidade e é capaz de prolongar essa fase reprodutiva por vários meses. Em definitiva, um verdadeiro achado ornamental…!!
Mas, através da Papoila-da-Califórnia, centremos a nossa atenção nas Papoilas da América do Norte. A Flora da América do Norte é uma ajuda certamente indicada para este fim (http://www.efloras.org/florataxon.aspx?flora_id=1&taxon_id=123791). Sessenta e oito são as espécies desta família que podemos encontrar em estado silvestre ou naturalizadas nos Estados Unidos da América. Retirando as doze espécies introduzidas pela mão do Homem ficaríamos com cinquenta e seis, sendo que oito destas últimas são partilhadas com a Eurásia Ocidental e as restantes quarenta e oito são genuinamente americanas (desde México até Alasca). Estes números, além de ser uma seca sem sentido podem ter alguma finalidade. Para isso temos que ter em consideração que, aparentemente e segundo indicam esses tais números, uma pequena parte desta família tão diversa está também representada na Eurásia Ocidental. Um dado como este aponta a que houve um tempo em que a costa Este da América do Norte esteve ligada à Eurásia Ocidental. Quando aconteceu tal fenómeno? Pois… várias vezes, embora para responder a esta questão é preciso olhar a outro dos valores que apontámos mais acima: quarenta e oito eram as espécies exclusivas da costa Este entre México e Alasca. Tendo este valor em consideração seria preciso tempo e espaço, pois criar uma diversidade como esta implica encontrar uma heterogeneidade espacial e um tempo de isolamento e transformação. Por tal motivo, o contato terrestre entre América do Norte e a Eurásia Ocidental que nos poderia interessar seria um relativamente antigo. Para determinar essa data vamos aos registos fósseis, onde encontramos restos de possíveis Papaveráceas com aproximadamente 110 milhões de anos. Isto nos leva ao Cretácico Superior. Este período foi especialmente ativo na América do Norte, pois não só levou à fusão entre a placa das Montanhas Rochosas com a Laurássia Norteamericana, como também existiu uma ponte terrestre com a Eurásia Ocidental. Aqui queríamos chegar!!… mas tão longe (!?)
Os seres vivos sempre temos a necessidade de mudarmos de espaços, para deste modo mudarmos também os tempos. Contudo há sempre os que são mais receosos a mudar os seus espaços e, portanto, os seus tempos. Isso leva-nos a que entre as Papaveráceas americanas ainda exista um grupo delas fieis aos seus ancestrais, mas também muitas outras mais que apostando em novos espaços recriam novas escalas temporais. É sempre tão bom falar com as plantas.
Por: António Crespí
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