Informação
Galactites tomentosa
Moench
Asteridae
Magnoliopsida
Magnoliophytina (Angiospermae)
Spermatophyta
Terófito
Região Mediterrânica e SW Europa
Cardo
Cardo-dos-picos
Não
Distribuição em Portugal
Gastamos tanto tempo classificando, que chegamos a não desfrutar do que nos envolve. Hoje vemos um capítulo, mais especificamente um capítulo de um Cardo, neste caso o que forma a espécie Galactites tomentosa Moench. Este tipo de inflorescência racemosa é caraterística de uma família de eudicotiledóneas (o grupo mais recente das dicotiledóneas), as Asteráceas (família Asteraceae). Essas flores tubuliformes, que deixam ver umas majestosas anteras, entre aquelas flores férteis; com um recetáculo de pequenas folhas, ou brácteas acolhendo esse conjunto tão numeroso de flores. Parece tudo tão claro e interessante, não é? Antes não fosse porque estamos perante uma perfeita e dificilmente compreensível fantasia, que como qualquer fantasia vive sempre o seu momento, o seu tempo. Passado esse tempo as fantasias dissolvem-se, como sonhos que nunca aconteceram. Pois, realmente, os sonhos são o resultado de uma combinação de circunstâncias que, aos olhos de quem se apaixona por eles, acabam por ser transformar em algo diferente, único, genuíno.
A fantasia das Asteráceas guarda uma curiosa e, certamente, inovadora combinação dessas circunstâncias. Tudo começou com um esforço evolutivo fantástico por unir pétalas, exercício este que foi determinante não só para criar um conjunto absolutamente diferente de formas florais, como também para outras muitas coisas. Entre essas muitas outras coisas as flores começaram a ganhar cada vez mais eficiência, pois criando tantas novas formas acabaram por prescindir de órgãos reprodutivos e, deste modo, fazer com que as inflorescências fossem adquirindo também formatos diferentes. As flores aproximaram-se, construindo glomérulos ou capítulos, dependendo de como fossem formadas essas inflorescências (história essa que qualquer outro dia veremos com mais calma…). Muitas mais transformações acompanharam estas mudanças. Uma das mais inquietantes foi a que aconteceu com as formas de vida. Segundo as plantas foram descobrindo as potencialidades das transformações, explorando este formato de flores tão revolucionário, os indivíduos desta família vão atingindo também uma plasticidade inusitada. As Asteráceas são um exemplo vivo desta maravilhosa ilusão. A diminuição do tamanho das inflorescências fez com que os indivíduos começassem a sondar o estatuto das herbáceas. De facto, as Asteráceas abandonam em grande parte as consistências arbustivas ou arbóreas, encontrando entre as herbáceas umas potencialidades formidáveis para explorar nichos em condições ambientais novas, diversas e com enormes possibilidades.
A beleza das Asteráceas é um sinal de um esforço evolutivo gigantesco, em que muitas mais outras formas formaram parte. Nós optámos por tipificar este comportamento numa família, dentro de um grupo de formas, as Asterídeas (Subclasse Asteridae). Onde está então a mentira? Nela própria. Levamos o nosso olhar para um grupo que consideramos consolidado, mas que está intimamente ligado com outros semelhantes (as Campanuláceas, por exemplo) e com outros muitos que existiram antes e criaram formas e combinações que agora elas também utilizam. Nunca esqueçamos, o padrão de comportamento não consiste em repetir combinações. Antes que isso, os padrões de comportamento recriam ilusões que embargam o nosso olhar da vida.
Por: António Crespí
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