Informação
Ginkgo biloba
L.
Pinidae
Pinatae
Coniferophytina
Spermatophyta
Mesofanerófito
China (NW Zhejiang)
Árvore-de-quarenta-dinheiros
Nogueira-do-Japão
Pé-de-pato
Sim
Classificação IUCN
Medidas de conservação
A espécie tem sido difundido no cultivo durante vários séculos.
Distribuição em Portugal
Velhos… Não é fácil pronunciar uma palavra como esta. Impressiona, assusta, sentencia. Velho é o inútil, o inservível, o gasto, o ultrapassado, o obsoleto. Velho é uma sombra do que foi, ou o fim de uma luta. Velhos…
Não fossemos humanos e o universo inteiro ficaria a olhar para nós como verdadeiros inúteis, inservíveis, gastos, ultrapassados e obsoletos se realmente acreditássemos numa estupidez tão grande como esta. É o medo, o pavor de sentir o fim mais perto que nos faz concluir lamentos como esses.
Olhemos com alguma atenção a planta de hoje. Estamos perante outro integrante da coleção de ornamentais, pois a Árvore-dos-quarenta-dinheiros (Ginkgo biloba L.) é um velho que atualmente restringe o aparente fim da sua existência a uma pequena reserva duma província do Este da China, a província de Zhejiang. De facto estamos perante um autêntico e indiscutível idoso, aproximadamente 200 milhões de anos pesam sobre essas estranhas folhas festoneadas com nervação dicotómica, inseridas sobre caules de crescimento extremamente lento (os também chamados braquiblastos) e essas extravagantes sementes -que protagonizam a foto de hoje- envolvidas de uma "sarcotesta" carregada de ácido butírico (daí o cheiro pestilente que depreende aquando da maturação dessas sementes). Por estas razões falamos de um arcaísmo exótico, decorativo e imponente, mas vetusto e inútil. Uma verdadeira relíquia de jardim. Mas… olhemos com alguma atenção para esta entroncada e senil personagem, vinda de um passado tão distante. Como foi possível sobreviver 200 milhões de anos? Acaso esta velharia não sabe morrer? Será que estamos a testemunhar a essência da eternidade? É acaso o paradigma do inconformismo frente ao destino?
Num universo espaço-temporal de fractalidades, o Ginkgo soube combinar os caracteres anatómicos, fisiológicos, morfológicos e moleculares que permitiram a sua persistência até aos nossos dias. Tal fenómeno não resulta uma raridade única, pois muitos fetos, por exemplo, conseguem proezas em ocasiões maiores, mas não por isso deixa de chamar rapidamente a nossa atenção. Porém, o sucesso destes fractais está, mais uma vez, na vantagem da resposta que tais combinações proporcionam num cenário ambiental planetário em contínua e constante mudança. Para ter uma ideia do alcance deste fenómeno temos que ter em consideração que os Ginkgos, que agora decoram as nossas avenidas e jardins, já formaram parte da nossa vegetação natural e não foi há muito tempo. Para vê-los pela última vez, no que atualmente conhecemos como Península Ibérica, teríamos que recuar uns 30 milhões de anos e encontraríamos essas que hoje etiquetamos de relíquias a povoar os nossos bosques temperado-continentais. Ginkgos, Taxodium, Rododendros, Magnolias e outros arcaísmos acompanhavam Ulmeiros, Nogueiras ou Liquidámbares. Arcaismos com jovens empreendedores? Nada mais longe da realidade. Combinações que sem temores ou receios garantiam nos ecossistemas da época uma resposta eficiente e diversificada. A fim de contas, a fractalidade não entende de jovens e velhos, pois o que realmente interessa é combinar e qualquer combinação pode resultar em condições ambientais que, como os seres vivos, estão também continua e constantemente a mudar. Não se iludam, na vida há tempos, mas o antes e o depois nunca devem ser encarados como sinal de primitivismo ou de modernidade, pois para os ecossistemas essa perspetiva tão humanizada não tem qualquer sentido como tal.
Já viram as coisas que os nossos jardins podem ensinar-nos…?
Por: António Crespí
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