subesp. leavis
Informação
Jasione laevis
leavis
Lam.
Asteridae
Magnoliopsida
Magnoliophytina (Angiospermae)
Spermatophyta
Caméfito
Regiões montanhosas do SW da Europa, rara em Portugal (referenciada para as serras do centro do país, mas com presença muito provável nas serras nordestinas)
Báton-azul
Jasione perennis Lam.
Sim
Acesso por QRCode
Distribuição em Portugal
Muitas vezes perguntam ao jardim botânico da UTAD como é possível que Portugal albergasse flora alpina circumboreal repetidas vezes no passado, e a última há uns 12.000 anos! Muitos dos que nos questionam a possibilidade de existir algum resto ou sinal dessas passagens periódicas de uma flora que se nos apresenta hoje tão afastada do nosso país. Mas devemos ter sempre em consideração dois aspetos básicos e fundamentais para tentar compreender este fenómeno: as plantas só persistem num local quando esse local proporciona umas condições ambientais propícias para a sua existência; no caso dessa matriz ambiental mudar e a planta não poder dar qualquer resposta, a sua persistência transformar-se-á num desafio impossível. Atingindo esta insustentabilidade, os indivíduos que pertencem a esse táxon iniciam uma operação de recuo na sua presença nessas localidades. Este fenómeno é extremamente complexo e emotivo, pois não supõe uma mera e simples saída dessas plantas das áreas que ocupava, ao mesmo tempo um conjunto muito diverso de importantes transformações têm lugar nesses cenários florísticos objeto de transformações ambientais.
Podemos explicar este fenómeno biológico com um exemplo que os seres humanos já vivemos várias vezes, e que infelizmente parece que estamos condenados a sofrer por muito tempo: as migrações. Não temos que ir longe. Há uns anos Portugal era porto de destino de muitos emigrantes vindos da Europa Oriental, da Ásia, África e de América do Sul. A atividade económica em Portugal era evidente, embora mal sustentada, mas em qualquer caso o cenário humano era certamente muito diferente ao atual. Porém, as condições financeiras e a economia do país foram drasticamente alterados nestes últimos anos. Esta nova situação ambiental obrigou a uma mudança da diversidade humana que povoava Portugal. Uma elevada percentagem dos que vieram viver connosco, empurrados pelas limitantes e asfixiantes condições económicas dos seus países de origem, eram agora obrigados a voltar ou procurar novos portos de abrigo. Portugal começava a mostrar sintomas de sério enfraquecimento económico e financeiro, que levaram a um despovoamento gradual que acabou por afetar também aos próprios portugueses. Quais são os sinais que esses emigrantes que agora não estão deixaram aqui? Embora o tempo que passaram connosco foi certamente muito pouco, muitos foram esses indícios, resumidos especialmente em infraestruturas, empreendimentos económicos e laços culturais e de amizade. No entanto, e ao mesmo tempo, algum deles conseguiu ficar, para o qual foi preciso fazer também algumas transformações substanciais nas suas vidas. Adaptaram costumes e cultura às tradições e hábitos socioculturais de Portugal, criando afetos e famílias.
Para um sociólogo analisar fluxos humanos e a ligação destes com a evolução económica das sociedades é sempre um desafio, pois resultam decisivos para explicar ligações históricas entre povos e as suas consequências históricas. Com essa finalidade é preciso percorrer todo esse entramado evolutivo de relacionamentos e só deste modo é possível compreender, por exemplo, os paralelismos entre os países Latino Americanos e a Península Ibérica, ou entre a Pérsia e o Reino Unido, a Itália e os Estados Unidos da Norte América, etc. etc.
Uma análise muito semelhante é a que devemos fazer com as plantas, com duas salvaguardas: a escala temporal é muito maior (não são séculos mas sim milhares ou milhões de anos), e não temos registos escritos (especialmente quando entramos em períodos de dezenas de milhares de anos). Como resolvemos estas lacunas de informação? Pois basicamente pela análise dos indivíduos (morfologia, estudo molecular, ecologia, características cito-histológicas, …) e pela intuição do investigador.
A planta de hoje é um excelente exemplo do que falámos até aqui. Jasione laevis Lam. é um táxon em extinção natural em Portugal. Provavelmente ainda deverá persistir nas cumeadas da Serra da Estrela ou das serras próximas a esta, mas até hoje aparentemente não foi encontrado qualquer exemplar vivo desta espécie. No entanto, esta Campanulácea (família Campanulaceae) subfruticosa está presente ao longo dos sistemas montanhosos do centro e norte espanhóis e estende a sua distribuição ao longo de todos os sistemas montanhosos do sudoeste da Europa (a foto com que acompanhamos este texto procede dos Alpes marítimos franceses). A forma de vida deste indivíduo, associada a sua relativa amplitude ecológica lhe permite ter a distribuição que hoje possui, e essa circunstância ecológica é a que está a retardar o processo de recuo na distribuição deste belíssimo Báton-azul. Contudo J. laevis não abandona Portugal sem antes ir deixando familiares, que vão encontrando aqui uma nova forma de viver. De facto, o género Jasione apresenta uma quantidade frequente de indivíduos perenes que hoje resultam dificilmente identificáveis pelas suas semelhanças morfológicas, e estão divididos no conjunto mais díspar de espécies, tais como a J. marítima, J. crispa ou J. sessiliflora. Voltaremos algum dia novamente a este género, pois emigrar muitas vezes leva a não voltar, mas a saudade nunca esquece.
Por: António Crespí
Jasione crispa subesp. crispa
(mesmo género)
Jasione maritima var. sabularia
(mesmo género)
Jasione montana var. montana
(mesmo género)
Jasione sessiliflora
(mesmo género)
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