Informação
Lathyrus latifolius
L.
Rosidae
Magnoliopsida
Magnoliophytina (Angiospermae)
Spermatophyta
Hemicriptófito
C, S e E Europa, N África e Macaronésia (Canárias); introduzido EUA
Cizirão
Cizirão-de-flor-grande
Lathyrus heterophyllus auct.
Lathyrus sylvestris L. subsp. latifolius (L.) Arcang.
Lathyrus sylvestris L. var. latifolius (L.) Samp.
Não
Distribuição em Portugal
A importância daquilo que fazemos pode transformar-se numa verdadeira obsessão. Queremos dar sentido às nossas vidas e acabamos por convencer-nos a nós próprios da relevância da nossa existência para a sociedade. Afinal, sem o meu contributo pessoal a vida não seria como é, e a raça humana não seria como quer ser. O mais ridículo é que isso é tão certo que, ao mesmo tempo, anula essa ideia protagonista que muitas vezes invade as nossas vidas.
Mais uma contradição? Olhemos para a espécie que hoje ilustra este breve comentário. O Cizirão-de-flor-grande (Lathyrus latifolius L.) é simplesmente imponente, soberbo, formidável, grandioso. Uma forte e vigorosa erva emerge entre todas as outras, com um caule ágil, certeiro, de elegantes formas e delicados contornos. Esta esplendorosa Leguminosa (família Leguminosae) deve formar parte desse clube de eleitos, pois lá onde surge atrai a vista dos que por ela passam. O seu tamanho, juntamente com o facto de atrasar a floração para o fim da Primavera e o início do Verão, faz com que o seu protagonismo adquira ainda mais relevo.
A nossa ilustre traqueófita de hoje trepa, neste caso, por uma humilde e espinescente Gilbardeira (Ruscus aculeatus), desafiando a pequena altura e rústico aspeto deste achaparrado arbusto amante do escondido e inimigo de protagonismos. Finalmente, superado o pequeno tamanho de tão agreste arbusto, o milagre da reprodução desponta no distinguido Cizirão. Umas luxuriantes e portentosas flores, fiel reflexo de uma beleza tão afastada e de uma agilidade tão diferenciadora, eclodem no ápice dos seus desportivos ramos. Agora só resta deslumbrar, mostrar a importância da distinção, atrair a atenção invejosa da vizinhança e desfrutar do momento e a ilusão que o poder inflama. Lá está ela, sobre a desgraçada e ordinária Gilbardeira, que calada e indiferente assiste a esta cena imprevista.
Passará o Verão e o Cizarão-de-flor-grande terá deixado mais uma vez as suas sementes juntamente com as sementes de uma Gilbardeira que, mais velha e mais persistente, suporta todos os anos os descendentes da tão requintada Leguminosa. Naquele silêncio impávido esse rústico e grosseiro arbusto é sempre o convidado forçado desta inusual história. Mas chegará o dia em que os tubérculos já desgastados deste humilde arbusto não consigam suportar a exuberante veleidade do Cizarão. Então mais nada acontecerá. O passado apagará o que foi e construirá um novo futuro. A importância do vivido já não terá nome, mas sobre o passado uma dúvida permanecerá escondida: o silêncio consentido da Gilbardeira.
Por: António Crespí
Lathyrus amphicarpos
(mesmo género)
Lathyrus angulatus
(mesmo género)
Lathyrus annuus
(mesmo género)
Lathyrus aphaca
(mesmo género)
Lathyrus cicera
(mesmo género)
Lathyrus clymenum
(mesmo género)
Lathyrus hirsutus
(mesmo género)
Lathyrus linifolius
(mesmo género)
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