Informação
Myoporum laetum
G. Forst.
Lamiidae
Magnoliopsida
Magnoliophytina (Angiospermae)
Spermatophyta
Microfanerófito
Originária Nova Zelândia; naturalizada
Mióporo
Mióporo-acuminado
Myoporum tenuifolium G. Forst.
Myoporum perforatum Hort.
Não
Distribuição em Portugal
Temos esse hábito de analisar os esforços evolutivos das plantas nos órgãos encarregues da sua reprodução, ignorando muitas vezes as mudanças que são operadas no sistema vegetativo de modo a modificar também o sistema reprodutivo. De facto, desde os naturalistas do século XVIII existe essa visão enganosa e traiçoeira de que o segredo da diferenciação nas plantas está na flor, e nada mais longe da realidade.
As formas dos seres vivos são o resultado de um processo emergente, em que cada indivíduo é o resultado de uma agregação ou combinação de muitíssimas características morfológicas. A forma de uma folha, por exemplo, resulta não só da agregação de uma morfologia e histologia de pecíolo e limbo, outros muitos carateres estão envolvidos neste processo: a plasticidade da ramificação, a disposição das gemas e das flores, os tipos de flores e frutos, as estratégias reprodutivas do indivíduo, a localização do indivíduo nos habitats em que vive, os vizinhos que vão surgindo a sua volta, etc. etc. etc. Poderíamos fazer o exercício simplista de ignorarmos isto tudo e centrar toda a nossa atenção na flor, como normalmente fazemos. Se assim o fizéssemos não teria muito interesse conhecer a morfologia da folha das plantas, contudo estaríamos a cometer um lamentável erro: as flores não passam de folhas especializadas na reprodução. De modo que, se não temos em consideração a variabilidade morfológica das folhas estaríamos a fazer algo tão ridículo como tentar compreender o sucesso económico da Alemanha sem analisar a evolução económica da restante comunidade europeia; estudar os sucessos do nosso clube de futebol sem o esforço dos seus sócios e apoiantes; focalizar o fracasso de uma revolução sobre os governantes sem lembrar-nos que por trás há todo um povo que também forma parte desse país; ...
Hoje, temos o exemplo de um Mióporo (Myoporum laetum G. Forst.), um formidável integrante das Escrofulariácea (família Scrophulariaceae). Esta distinguida família botânica está constituída por um grupo muito interessante de verdadeiras “experimentalistas”. De ervas até árvores, neste conjunto de plantas encontramos todo um exercício vegetativo que permite adivinhar o caráter inovador e distinto desta singular e ainda muito recente estratégia evolutiva de plantas vasculares. A estrutura vegetativa do Mióporo é de uma plasticidade tal que, com folhas simples oblongo-elípticas foi capaz de desenvolver umas pequeninas flores rodadas hirsutas, com uma coloração que orienta magistralmente aos polinizadores, de modo a levá-los diretamente aos seus nectários, sem muitos estames ou pistilos que desorientem estes importantíssimos visitantes. Estas plantas tiveram que sacrificar grandes tamanhos, adquirir muita plasticidade nos seus ramos e criar folhas que consigam acompanhar uma estratégia reprodutiva tão arriscada como esta (a estratégia da especialização dos seus polinizadores).
Esta espécie paleotropical índica, de bosques húmidos pluvisílvicos tais como as nossas laurissilvas, tem comportamentos muito semelhantes aos dos também nossos Samoucos (Myrica spp.), tão injustamente tratados nas floras ibéricas (ainda hoje prevalecem dúvidas relativamente ao facto de serem indígenas ou exóticos). Embora a espécie de Mióporo que hoje vemos seja originária da Nova Zelândia, possui um conjunto de características muito semelhantes a plantas silvestres da flora portuguesa. Curioso, não é?
Por: António Crespí
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