Ononis pubescens L.

História e Evolução

Hoje vemos um outro exemplo da mensagem daquilo ao que, de uma forma absolutamente abstrata e incompreensível, chamamos evolução. Ononis pubescens L. é um neogenismo eurasiático ocidental termófilo, ou dito noutras, uma planta mediterrânica calcícola. O antepassado desta distinguida espécie era, muito provavelmente, um arbusto. Como sabemos isso? Pois porque vários dos seus primos carnais são arbustos e sabem fazer muito bem o seu trabalho. No entanto Ononis pubescens é uma erva anual, isso sim, geralmente grande e muito vistosa.

Esta bela dama, revestida de uma densa pelagem esbranquiçada, está ao longo de toda a bacia mediterrânica. O Jardim Botânico da UTAD tem registos desta espécie desde Jerusalém até à Estremadura portuguesa. Contudo, a sua variabilidade morfológica não é muito elevada, antes ao contrário, até morfologicamente varia pouco e os indivíduos do oriente mediterrânico são muito semelhantes aos do ocidente. Por esse motivo, os botânicos nunca chegaram a distinguir taxonomicamente entre uns e outros. Mas foi no ocidente onde esta espécie acabou por explorar umas combinações morfológicas que a transformaram radicalmente, surgindo uma outra espécie não menos singular, Ononis viscosa L. Esta última espécie, endémica (isto é, exclusiva) do ocidente mediterrânico (muito provavelmente, pois no lado oriental também há uma outra história por contar não menos emocionante…) é, ao contrário do que O. pubescens, muitíssimo variável na sua morfologia, gerando um importante leque de subespécies e de dúvidas taxonómicas.

A evolução é então isso? O. pubescens adaptou-se no ocidente mediterrânico para dar O. viscosa? Não, pois isso não é evolução, e não passaria de uma pura e simples treta!

O que acontece é que O. pubescens, como qualquer espécie, possui uma capacidade de combinar caracteres morfológicos, isto é, de variar o seu aspeto sempre que o ecossistema estimula essa função. Essas combinações de caracteres são respostas que os indivíduos conseguem desenvolver, e que poderão ser mais ou menos eficientes para as também combinações ambientais envolventes. Estas últimas estão em constante mudança, de modo que seria ridículo pensar em uma adaptação de um indivíduo a umas determinadas condições ambientais, pois tal não passaria de uma maiúscula mentira fotográfica (isto é, exclusiva desse momento).

A evolução não consiste em melhorar o comportamento dos indivíduos, favorecendo a competição e a eficiência para aumentar a competitividade. A evolução é uma combinação de ideias, constante e contínua, e o céu pode esperar…!

Por: António Crespí